A minha mulher chama-se Paula. É professora. O despertador toca todos os dias às 6.45. Começa a dar aulas às 8.15. Na sua escola não existe horário normal. A escola está a rebentar pelas costuras e a promessa de construir uma nova já tem barbas. Um bom sinal de como está o ensino público. Os prejudicados são as crianças que têm que madrugar de segunda a sexta. Acaba a aula às 13.15. Aproveita a hora de almoço para corrigir umas fichas de avaliação.
Às 15.30 volta à sala de aulas para dar apoio ao estudo no tão propagandeado prolongamento de horário. Só aparecem duas crianças simplesmente para fazer os TPC s. As suas mães estão em casa, mas não têm tempo para olhar para os cadernos dos filhos.
Às 18.30 vai para uma reunião do Agrupamento de Escolas. Eu vou buscar o Filipe e o João, os nossos dois filhos. O Filipe, o mais novo, pergunta pela mãe e eu respondo que está a partir pedra numa reunião da escola.
Às 21.30 a Paula chega a casa. O Filipe já dorme. Hoje não viu a mãe. O João, o mais velho, está a fazer os trabalhos de casa. A minha mulher, janta apressadamente e agarra-se ao portátil. Sentado no sofá a ver a SIC Notícias, pergunto à minha mulher para que são centenas de papéis. Responde com ar zangado, é para a porra da avaliação!
Digo eu com ar estupefacto, mas Paula, a Ministra da Educação acabou de dizer na SIC Notícias que na avaliação só se preenche uma ficha ??!!
São 4 da manhã e o Filipe acorda a chorar e a gritar pela mãe. A Paula levanta-se e o Filipe pergunta, mãe porque estiveste a partir pedra?