Paulo Pimenta

Construir

 

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Há quem se sente no sofá. Há quem nunca levante os braços. Há quem durma mesmo acordado. Há quem ande só puxado. Há quem desista. E há os outros. Aqueles que dizem não. E o não foi o embrião. Projecto Troika fecundou, germinou, rebentou de um tremendo não, resistente e teimosamente incomodado. Lara Jacinto, José Carlos Carvalho, Bruno Simões Castanheira, Paulo Pimenta, Adriano Miranda, Pedro Neves, António Pedrosa, Vasco Célio e Rodrigo Cabrita. São estes e podiam ser muitos mais. Felizmente ainda existe muita gente que anda sem ser puxado.

Um dia, quando ainda brincava aos carrinhos e aos cowboys, ouvi o meu pai dizer à minha mãe que construir é muito difícil, destruir é muito fácil. Como fiquei com dúvidas das palavras do meu pai, pisei violentamente um Ford Capri. O frágil metal aliado ao pobre plástico, depressa deram sinais de pouca consistência. Num segundo o Capri ficou eternamente destruído. Não me adiantou chorar. Como agora não me adianta chorar. As palavras do meu pai perseguem-me como um alicerce de vida. O Projecto Troika é uma construção contra uma destruição. Constrói diferença e discussão. Constrói saber e denúncia. Constrói memória e testemunho. Constrói sobre um país destruído por gente má. Gente que não é gente. Que rasteja sobre o sofrimento, que manipula, que mente, que rouba. Que só destrói. E num país amarrado ao colete-de-forças da inabitabilidade, queremos o apoio de todos aqueles que querem construir e sabem dizer não.

Junto à escola dos meu filho João alguém escreveu num muro branco Amo-te João Miranda. A surpresa de tal frase fez-me pensar que o meu filho é muito melhor que o pai. Nunca tive uma manifestação de amor tão democratizada. Se ainda sou do tempo em que os rapazes não se podiam juntar às meninas no intervalo da escola, felizmente o muro foi derrubado no dia 26 de Abril, agora podemos e devemos construir Amor. Necessitamos urgentemente de sopa e colo. O Projecto Troika é Amor. Pela Fotografia e pelo país.

 

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Paulo Pimenta

Convidei-o para ir mostrar o seu trabalho aos meus alunos do Politécnico do Porto. Ele aceitou e mais uma vez foi pontualíssimo. Apresentei-o aos alunos como um fotógrafo obcecado. Ele não reagiu.

Ontem ao abrir o sítio do Público fiquei a saber que ele tinha ganho o Prémio Internacional de Fotojornalismo promovido pela Estação Imagem em Mora. Vinte e quatro horas antes, tínhamos estado a conversar os dois sobre o concurso. Ele concorreu mas sabia que não ia ganhar. Eu não concorri porque sou anti-concursos de fotojornalismo.

Fiquei feliz. Porque foi o Pimentinha a ganhar. É o prémio para quem trabalha imenso. O prémio do prazer.

E neste dia de Liberdade o meu cravo é para ti.