
Quando abri a caixa do correio estavam bem lá no fundo e por baixo das cartas do BES, da PT e da EDP, três papeizinhos com as fotografias de Sócrates, de Passos e de Portas. As cartas foram guardadas no cesto de verga, aquele que todos os meses contabiliza as contas da família. Os papeizinhos foram directos para o caixote do lixo.
Não ando desatento apenas desiludido. Quando ouvi Passos Coelho dizer que esta crise duraria dez anos, fiz de imediato as contas à idade dos meus filhos. Um terá vinte e um anos e o outro dezasseis. Os meus pais tiveram uma vida de sacrifícios como a esmagadora maioria dos portugueses. O objectivo daquela geração era dar um futuro melhor aos seus rebentos. Assim o fizeram, e assim contribuiu o vinte cinco de Abril. Agora, não sei que futuro os meus filhos vão ter. Não sei se terei capacidade de lhes oferecer melhor que o meu pai e a minha mãe me ofereceram. Estou desiludido sim. Frustrado. Assustado.
Passos Coelho sabe do que fala. Só não diz quem são os responsáveis. Só esconde o que quer para o futuro do país. Mente, como Sócrates e Portas. E no meio deste turbilhão de incompetência e selvajaria, o povo perdeu a memória. A memória da consciência, da justiça e do rigor. No domingo a romaria da continuidade vai vencer. Que se desenganem os que pensam que Passos é diferente de Sócrates. A diferença está simplesmente na letra D. Um é PS o outro é PSD. E pelo meio aparece Portas, desejoso por se casar, ou com um, ou com outro. Não é por amor é por conveniência. E assim, Portugal vai continuar na sua decadência económica, social e política.
No domingo não vou seguir o caminho do rebanho intoxicado. Como disse alguém do povo ontem nas famosas arruadas, o senhor é honesto. Palavra nobre que caiu em desuso. Para mal de Portugal.