
Quando se pergunta a um fotógrafo o que fotografou pela última vez e ele já não se lembra, algo está mal. Pois assim estou eu. Já não sei o que é máquina fotográfica há mais de um mês.
Seria um grande mentiroso se dissesse que estou à beira da depressão por tal facto. Verdadeiramente não estou. Mas também não estou contente. A fotografia faz-me falta.
Não sou um fotógrafo compulsivo, que quer para onde vá leve sempre a máquina atrás. Também é bom ver o mundo com outros olhos. Já lá vai o tempo em que fotografava por puro prazer. Velhos tempos em que passava o tempo a pensar e a desenhar projectos. Alguns, com algum sucesso, deixando a modéstia de lado.
Agora fotografo por obrigação, e para não enganar o leitor deste post, o prazer quase sempre não existe. O fotojornalismo mata fotógrafos. Pelo menos o nosso fotojornalismo.
Quando me apaixonei pela fotografia nunca pensei ser fotojornalista. Aconteceu e aqui estou. Digamos que foi um casamento por conveniência. Não posso dizer que tem sido uma experiência má, bem pelo contrário. Simplesmente por dois motivos. A minha honestidade e o local onde trabalho. Mas isso não me impede de sentir que estou a cristalizar. E aqui vem o lado mais negro do fotojornalismo, o que mata.
Rotineiro, com truques, sempre com as mesmas linguagens, sempre das mesmas maneiras e sempre os mesmos assuntos. Sem se dar conta, o fotojornalista quando perde o encanto inicial do romantismo inerente à profissão, começa a ser uma máquina por detrás da máquina.
E se este retiro forçado que uma dor súbita me provocou, tem servido para alguma coisa, essa coisa é pensar para onde vou e se quero ir. Deixar de ser fotógrafo não deixarei.
Ainda não é desta que o pano vai correr.