
Cabanelas
Dezoito Anos e Vinte e Dois Abraços [ II ]
Dezoito Anos e Vinte e Dois Abraços [ I ]

Em mil novecentos e noventa e três tive das melhores experiências da minha vida. Descobri, encravada na serra da Freita, Cabanelas. Cabanelas era uma pequena aldeia que tinha uma minúscula escola com onze crianças e uma professora. Passei dias e dias rendido ao encanto daquelas onze crianças. Fui ficando. Fotografei e eles fotografaram com a misteriosa pin-hole. Projectei diapositivos para toda a aldeia e para as aldeias vizinhas. Viajámos até Lisboa para conhecer o metropolitano, esse estranho transporte para quem nunca tinha visto se quer um comboio.
Passados dezoito anos e a convite da SIC voltei a Cabanelas. De máquina fotográfica em punho voltei a fotografar as onze crianças, agora com rostos maiores e músculos com cheiro a trabalho árduo. Claro que gostei de lhes apontar a máquina. Mas o que genuinamente gostei, foi de os voltar a abraçar. Abraços fortes como à dezoito anos atrás.
Para ver este sábado, dezasseis de Abril, nos Perdidos e Achados, Jornal da Noite SIC.
A Corda no Pescoço










Não há tema mais falado cá em casa que não seja a Educação. Primeiro, acredito na Escola Pública. Segundo, o João anda no 6º ano e o Filipe no 1º ano. Terceiro, casei com uma Professora. Quarto, também lecciono no Ensino Politécnico. E quinto, tivemos uma Lurdinhas que deu muito que falar e gritar.
Ontem os Professores começaram a fazer contas à vida. Sócrates com o coração partido deu mais uma machadada a quem trabalha. Como disse Jerónimo de Sousa ontem no Parlamento, o seu coração partido pouco me importa, o que me importa é a corda no pescoço que muitos portugueses sentem.
Existem professores que ponderam já vender a sua casa. Vender o automóvel. Outros vão perder cerca de quatrocentos euros (perda salarial e mais portagens nas SCUT). Há quem tenha o marido no desemprego e o filho na Universidade sem direito a bolsa. Há quem desespere num mar de impotência e desgosto.
A campainha toca e os Professores lá estão. Zangados, humilhados, mas dignos nas suas tarefas. Eles sabem que têm crianças e jovens como companheiros. Eles sabem que a sua nobre tarefa é ensinar. Eles sabem que o futuro do país está nas suas plateias.
Em 1993 encerrei-me numa Escola Primária em Cabanelas, concelho de Vale de Cambra. Nove crianças. Uma Professora. Carências a todos os níveis. Muito afecto. Hoje as nove crianças são adultas. Gostava de as voltar a fotografar. O Décio, o Pedro, a Maria e todos os outros onde estarão? Certamente neste país, com a corda no pescoço.