
Escrever sobre mim não é um exercício fácil. Ainda bem. Sou fotógrafo quase por acidente. Quis ser arqueólogo quando todos queriam ser futebolistas ou médicos. Quis ser escultor mas alguém me ensinou a moldar as folhas do Record Rapid grau um, grau dois, grau três, grau quatro e grau cinco mais depressa que partir pedra ou moldar barro. Agora não sei fazer mais nada. Óptimo para a alma, péssimo para a carteira.
Quando dava aulas no AR.CO, a minha escola de eleição, proibia logo na primeira aula os aspirantes a fotógrafos, fotografarem velhinhas com gatos à janela, vasos de flores ou mãos dadas ao pôr-do-sol. Decretava logo morte aos postais. E ainda é assim.
A fotografia não é gira ou bonita. Não é adorno. A fotografia é agressiva e fere. A boa fotografia. Já nos bastou anos a fio dos miseráveis Salões de Arte Fotográfica que invadiam Portugal. Fotografia de regime. Sem pensamento. E agora, cada vez mais é necessária a Fotografia de Intervenção. Aquela que não enfeita mas desmascara. Aquela que nos põe a pensar e muitas vezes a agir.
Quando temos ministros com canudos tipo aprenda inglês em 24 horas ou se suspende a Constituição por um ano, não podemos brincar aos postais.
fotografia de Adriano Miranda
Grande Adri.