
Fernando tem quarenta e um anos e é açoriano. Pai de seis filhos e avô de dois netos. Trezentos euros por mês é o rendimento para toda a família. Fernando pertence pois aos catadores, homens que procuram no lixo dos outros o sustento para a sua família.
José António Rodrigues fez o meu gmail tremer quando abri a sua fotografia. Colei as minhas costas às costas da cadeira e fiquei a olhar o Fernando na tentativa falhada de dialogar com ele. Era isso que eu queria. Falar e aprender como se pode viver assim. E se possível fazer o impossível para o salvar. A si, à sua companheira e às oito crianças.
Fernando está emparedado na vida e nos contentores do seu sustento. Fernando come asas de frango com imensa vontade de voar. Mas está emparedado. Amarrado. À indignidade, à solidão, à miséria.
E mesmo à minha frente a televisão debita ruídos de ministros estridentes, com a bandeira de Portugal na lapela. Que ministro pode usar o símbolo nacional quando cria Fernandos e Marias? Só ministros banhados a cinismo maciço.
fotografia de José António Rodrigues
e há uma igreja que está a ser construida e vai custar milhões…diz uma senhora que Deus merece o melhor…acho que devíamos pedir contas!
“Fernando” faz do furto o seu modo de vida há já muito tempo… é consumidor assíduo de drogas e alcoólico assumido. Vive numa casa NOVA que lhe foi DADA pelo estado, um T3 mobilado e com todas as comodidades e mais algumas. desde plasmas a aparelhos de som de bradar aos céus. O Estado dá-lhe 120 € por cabeça, como subsidio/rendimento ou como lhe queiram chamar. Se a minha matemática não me falha entra naquela “vivenda” cerca de 1200€. OFERECIDOS PELO ESTADO. Fora claro está os biscates que o amigo “Fernando” consegue fazer, vendendo o que retira de forma ilegal aos outros que têm a infelicidade de morar perto dele. Trabalhar não é com ele, pois prefere deambular pela freguesia, com o tintol debaixo do braço, mostrando o caparro com a t-shirt de alças que é imagem de marca. Quer-me parecer que neste caso em particular o “Fernando” é o unico culpado pela sua derrapagem profissional e pessoal, sendo que a vida que leva é sem margem para duvidas uma opção pessoal/cultural. Com todo o respeito pelo autor do texto em epígrafe não podia deixar de dar o meu ponto de vista.” Bruno Oliveira