
Lara aproximou-se e perguntou-me quase a medo – podes dar uma opinião? Olhei o monitor e as imagens de Lara iam caindo como água milagrosa de uma cachoeira. Pensei com os meus botões – mas o que é isto?
Fiquei preso. As fotografias de Lara eram calmas e intensas. Promíscuas. Adultas. Maduras. Não olhando para questões técnicas que é o que menos interessa numa boa fotografia, Lara fez-me pensar o que estaria ela ali a fazer. Numa redacção de um jornal a estagiar. Lara não tinha fotografias para estagiar. Lara tinha fotografias para ser fotógrafa a tempo inteiro. Mas Lara ali estava com a sua teimosia. Mas bem lá no fundo a contra gosto. E com total razão.
Lara acabou o estágio. E a miopia da contabilidade cegou uma excelente contratação. E Lara partiu. Precária. Fruto da crise. Crise de valores e crise de direitos. E eu nunca mais esqueci Lara. As suas fotografias ainda aqui estão como sangue percorrendo nas veias.
Empenhei-me para que Lara fosse uma das 12. E agora, que Lara viaja por terras esquecidas, Bragança, ficamos os 11 arrepiados com as imagens que Lara nos dá. Força de estética sem gratuidade ou receitas, e voz aos que nasceram mudos.
Lara é assim. Uma Fotógrafa a tempo inteiro.
fotografia de Lara Jacinto
uma bela surpresa.