
Os soldados tinham metralhadoras mas sorriam. Vestiam farda mas tinham cravos. E o velho televisor Radiola mostrava a quase todo o país – a RTP não chegava a todo o território – imagens da revolução. Dos doze, uns eram crianças, outros adolescentes e alguns nem projecto sonhado. Mas a revolução foi feita para todos e quase com todos. E mesmo os que ainda não tinham nascido, teriam à sua espera um país livre e justo. Salgueiro e tantos outros pensavam assim.
E naquele tempo a prata ganhou asas. Fotografias de gente a construir um novo país. Laboratórios cheios de vida ao som da luz vermelha. É o que nos diz Eduardo Gageiro, Luís Vasconcelos, Alfredo Cunha, Carlos Gil… A história ali tão perto de nós. A preto e branco transbordando cor.
E agora estamos aqui. Os doze. Virados para um país livre mas amarrado. E já sem o som da luz vermelha, mas com disparos de obturadores irritados. Indignados. Faremos história. Não a história de Luís, Carlos ou Eduardo, mas outra história bem mais triste e cruel.
Somos doze mais um, Salgueiro.
fotografia de Adriano Miranda