
Agora crescem como cogumelos os peritos em poupança familiar. Não sei onde é que andavam nos anos dourados do cavaquismo, se calhar, a coleccionarem cartões de crédito e débito. As televisões já enjoam com reportagens feitas a martelo para ensinar os portugueses a poupar e os peritos a dizer-nos como devemos esticar o salário até ao dia trinta. Já ouvi muita asneira e tenho um salário que já foi alto e agora é médio. Não tarda muito é miserável. Mas um desempregado ou um trabalhador com o salário mínimo deve ter vontade de partir o televisor ao ouvir tanto disparate.
Quando estava a saborear o meu jantar e a televisão debitava ruídos sobre Passos Coelho, parei a garfada a caminho da boca e fiquei imóvel a ouvir mais uma deliciosa reportagem que nos iria mais uma vez ensinar a não sermos gastadores. Fiquei a saber que para poupar, devia cortar a internet, não comprar revistas nem jornais, não ir ao cinema, não tomar o pequeno-almoço ou o lanche no café, não comprar carros topo de gama. Fiquei a saber que durante muitos anos vivemos acima das nossas possibilidades e agora temos que descer à realidade.
Não sei se os milionários ouvem estes conselhos. Talvez para pouparem deixem de pagar mais alguns salários ou despeçam mais umas centenas. Agora, os remediados e os à rasca, terão que se redimir do pesadelo de terem vivido à grande e à francesa. E por isso evitem os luxos que são ler, estarem informados, serem cultos, comer pouco e andem a pé, outra magnífica forma de emagrecer e assim poupar no ginásio. Ocorreu-me logo a ideia de nem sequer comer (é quase crime) e assim pouparia no papel higiénico e por arrasto na água. Com sorte não iria ao médico e juntaria um bom pé-de-meia para a minha poupança reforma e o caixão,esse, seria comprado em segunda mão.
Ao que chegámos. Tão pequena e tacanha mentalidade que ofende os que menos têm e menos podem.
Eu já há algum tempo que sempre que vejo certo tipo de alarvidades na televisão tenho vontade de a atirar pela janela.
É inacreditável esta subjugação aos interesses inconfessos de uma certa classe que nos domina e esta vassalagem cada vez maior por parte de quem deveria estar a informar.
No outro dia cometi a imprudencia de ver mais um “prós & prós” e foi flagrande o cheerleadismo da Fátima campos Ferreira pró-este governo..
E o que dizer da duplicidade jornalistica quando se fala de cargas policiais nos paises do árabes e do mahgreb versus as mesmas nos paises europeus?
A diferença é algo subtil mas totalmente manipuladora. Se num caso se fala em “Violenta carga sobre manifestantes” na segunda diz-se que “A policia teve que intervir sobre os manifestantes violentos” ou “Os manifestantes provocaram a polícia”..
Curioso, não é?
http://sol.sapo.pt/inicio/Opiniao/interior.aspx?content_id=22108&opiniao=Pol%EDtica+a+S%E9rio
Este é, para mim, o expoente máximo da imbecilidade no que toca a “formas de poupar” em tempo de crise… faltam mais jornalistas como o Adriano, e fazem falta mais textos e posts aqui no blog. 🙂