
Para quem vira frangos há muitos anos, a maneira de fazer campanhas eleitorais não mudou quase nada. As redes sociais ainda não destruiram as bandeiras. Lembro-me que Freitas do Amaral oferecia chapéus tipo palhinhas, Cavaco Silva oferecia aventais, Mário Soares sacos de plástico e Álvaro Cunhal a palavra.
Colavam-se cartazes em qualquer parede limpa e Arnaldo Matos até pintava murais muito antes da invensão dos graffitis. O povo enchia praças. Os debates televisivos paravam o país. Muitas famílias zangavam-se. Muitas comadres odiavam-se.
Agora as ideias voaram como o saco de plástico. Já não é ecologicamente aceitável distribuir plástico. Já não é aceitável borrar paredes. Já não há tempo para as ideias ou ideologias. Chapéus, esses são cada vez mais. Há quem os enterrre e bem.
O marketing político manda. Vende-se um candidato como se vende um iogurte ou uma alheira de Mirandela. É tudo uma quetão de imagem. Mais light ou mais gorduroso.
Por imperativos profissionais durante quinze dias caminho ao lado de Manuel Alegre. E lá está a máquina a funcionar, ou quase. Alegre é da velha escola. Como ele se gosta de auto-afirmar, é um anti-fascista. Mas, das duas uma, ou não aprendeu nada com trinta e cinco anos de campanhas eleitorais, ou pensa que basta ter televisão e uma bonita luz de palco para que no dia vinte e três suba à ribalta.
Os milagres vão acontecendo como a multiplicação dos pães. Salas a metade são transformadas em salas cheias, bandeiras por detrás de Alegre dão a ideia de multidão, o staff grita e bate palmas, os autocarros transportam fieis de bem longe, os seguranças têm tiques de pouca liberdade, e Alegre continua alegre em cima do palco a proclamar a onda. Uma onda de água fria.
boa foto.
diz muito sobre o enfado do candidato…
grouchomarx