Adriano, Adrian, e João e Filipe

Dois mil e dez. O ano da grande viagem pelos países do Centro da Europa com os meus filhos, o ano da morte do meu Tio Adriano e o ano do salto do funcionário público romeno.

O João, o mais velho, tinha 2 meses e foi de férias para os Picos da Europa. O Filipe, o mais novo, também tinha meses quando começou a viajar. Nunca fui defensor da tese de deixar os filhos com os avós enquanto os pais se esticam na praia ou fazem um safari. Desta vez visitámos países europeus. Fizemos oito mil e quinhentos quilómetros de conhecimento, de boa disposição, de descanso, de aventura e bravura. Foi fantástico!

O Adriano, o meu tio, acreditava imenso na medicina. Lutou mais de uma década contra o cancro. Foi sempre vencendo. Sem se entregar, lutou mais uma vez. Mas a morte foi mais forte. O meu Tio foi um guerreiro. Em paz. Ficou a saudade e os ensinamentos.

Adrian Sobaru, pai de dois filhos, um deles autista. Quando Emil Boc, Primeiro-Ministro romeno se preparava para discursar no Parlamento, Adrian saltou de uma altura de sete metros em protesto contra as medidas de austeridade como os cortes salariais de 25% e o fim dos apoios do estado a crianças com deficiência. Adrian ficou gravemente ferido.

Se a viagem de férias pela Europa foi fantástica, Adrian mostrou ao mundo como a Europa está doente, desigual, desumana, entregue a mãos de agiotas e especuladores financeiros. Aprendi que a isto se chama Capitalismo. Capitalismo do pior que já se viu. O pior é que se sente.

Adrian tinha escrito na camisola quando saltou em desespero “vocês mataram o futuro dos nossos filhos”. João e Filipe crescem alheios às dificuldades. Adriano desapareceu mas deixou a semente do pensamento para os meus filhos e para os filhos dos outros.

Façam um mundo melhor.

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