A cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância e a palavra medo.
A cidade é um saco um pulmão que respira
pela palavra água pela palavra brisa.
A cidade é um poro um copo que transpira
pela palavra sangue pela palavra ira.
A cidade tem praças de palavras abertas
como estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.
A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.
José Carlos Ary dos Santos
A jornalista muito entusiasmada com o aparato, diz ao microfone, nem na visita do Papa Bento XVI se registou tanta segurança como agora para receber a organização que defende as democracias ocidentais.
Eles mandam. São aos bandos. Eles decidem. Vagueiam pelo mundo como donos. Eles ocupam. Eles impõem. Eles negoceiam. Eles vendem. Eles matam.
Eles têm tudo. Milhões não têm nada.
Lisboa acordou cinzenta. Alerta vermelho em terra, ar e mar. Dominada. Eles chegaram. Opulentos. Gordos. Lisboa é deles. E nas ruas, nos telhados e no céu, fardas apontam olhares e armas. Eles reúnem. Eles riem. Eles discursam e abusam com sarcasmo da palavra democracia. Eles comem.
E no céu de Lisboa, as pombas fogem. Assustadas. Só voltarão segunda-feira. Com céu azul.
Eles comem tudo e não deixam nada!
Abraço e melhoras rápidas!