









Não há tema mais falado cá em casa que não seja a Educação. Primeiro, acredito na Escola Pública. Segundo, o João anda no 6º ano e o Filipe no 1º ano. Terceiro, casei com uma Professora. Quarto, também lecciono no Ensino Politécnico. E quinto, tivemos uma Lurdinhas que deu muito que falar e gritar.
Ontem os Professores começaram a fazer contas à vida. Sócrates com o coração partido deu mais uma machadada a quem trabalha. Como disse Jerónimo de Sousa ontem no Parlamento, o seu coração partido pouco me importa, o que me importa é a corda no pescoço que muitos portugueses sentem.
Existem professores que ponderam já vender a sua casa. Vender o automóvel. Outros vão perder cerca de quatrocentos euros (perda salarial e mais portagens nas SCUT). Há quem tenha o marido no desemprego e o filho na Universidade sem direito a bolsa. Há quem desespere num mar de impotência e desgosto.
A campainha toca e os Professores lá estão. Zangados, humilhados, mas dignos nas suas tarefas. Eles sabem que têm crianças e jovens como companheiros. Eles sabem que a sua nobre tarefa é ensinar. Eles sabem que o futuro do país está nas suas plateias.
Em 1993 encerrei-me numa Escola Primária em Cabanelas, concelho de Vale de Cambra. Nove crianças. Uma Professora. Carências a todos os níveis. Muito afecto. Hoje as nove crianças são adultas. Gostava de as voltar a fotografar. O Décio, o Pedro, a Maria e todos os outros onde estarão? Certamente neste país, com a corda no pescoço.
Era mesmo interessante se os conseguisses encontrar e fotografar estes anos depois…!
Bom trabalho
Um trabalho belíssimo, Adriano. O texto deixou-me… sem palavras.
Extraordinários,o texto e as imagens.
É curioso que desse lado do Atlântico em que estou a relação das pessoas com a educação nem sempre é tão boa quanto a que você descreve no primeiro parágrafo. Estudo para ser professora e desejo isso mesmo, mas sempre tenho que escutar pessoas que dizem que eu não devia fazer isso, que ganharei muito pouco e darei aula para pesoas preguiçosas e desobedientes. Não é um problema do Brasil apenas, e não creem na escola pública. Eu, de qualquer modo, creio. E sigo a viver na esperança de que a corda não esteja no meu pescoço; e que se estiver, eu continue com minha dignidade.
Belos retratos! Seria interessantíssimo mesmo vê-los novamente.