Muito por culpa da minha educação enquanto criança e adolescente, sempre me entreguei de corpo e alma e com uma inabalável dedicação a tudo o que faço, a tudo o que acredito e em tudo o que gosto.
Aprendi a ser imaginativo e a usar a surpresa como arma de afectos. A minha primeira paixão surgiu quando andava no liceu. Aconteceu e durou anos. Depois os cursos separaram-nos fisicamente. Porto e Lisboa. Quase todos os dias trocávamos cartas. Todos os dias sussurrávamos dentro de uma cabine telefónica. Aos fins-de-semana escolhíamos o banco mais escondido do jardim.
Lembro-me de um Inverno a minha namorada estar de cama com uma grande constipação. Fui ao limoeiro lá de casa e apanhei limões. Arranjei uma caixa e despachei-os no correio para Lisboa. Com o chá dos meus limões as melhoras foram rápidas.
Só que um dia o limoeiro perdeu a folha. E um dia morreu. Também o amor que parecia eterno secou.
Desde aí fiquei a detestar o chá de limão. E hoje as únicas cartas de amor que recebo são da EDP, da PT e do BES. O tempo tem voado e sinto o peso da melancolia. Já não sou imaginativo. Já quase não surpreendo. Nem sou surpreendido.
No dia cinco fiz quarenta e quatro. Os meus dois filhos deram-me os Parabéns como quem arranca um dente. A minha mulher de férias no Algarve só me telefonou quando acordou. Bem tarde. Ninguém me cantou os Parabéns. Não recebi nenhuma prenda.
Ao fim da tarde liguei o computador. O facebook estava inundado de mensagens a felicitarem-me. Li uma a uma. Amigos e desconhecidos. A campainha da rua tocou. Pensei, Alguém vem felicitar-me olhos nos olhos e dar-me um abraço. Abri a porta e ouvi, Vizinho tem uma bomba de encher bicicletas?
Bebi chá de limão. Para adormecer.

Fazemos anos um dia seguir ao outro (eu no dia 4), mas a descrição do dia é assustadoramente idêntica, a diferença o meu vizinho perguntou se tinha sal!
Coitado. Que pena. Que solidão essa. Que menlancolia. É português. Porque não Tomas um chá branco, ou Uma garrafa cheia? As melhoras. João
O post é tão poético, como não ser criativo?
Não acredito!
Um abraço,
Às vezes também cultivamos a solidão e nem sempre é por estarmos afastados fisicamente dos que gostamos.
Beijos