Com o trauma da queda da aeronave francesa sobre as águas do Atlântico e a pandemia de Gripe A, o meu chefe enviou-me para o México. Confesso que fiquei assustado e em casa quase que tive as malas à porta.
Se da queda nada me salvaria, já da Gripe fui mais que prevenido por imposição responsável da minha entidade patronal. Não me faltaram máscaras, toalhetes com álcool, termómetro e o tão procurado Tamiflu. Fiz as malas com algum receio confesso.
Não rezei porque não sou de rezas mas até o facto de não ter escrito um testamento me perturbou. Mas escrever o quê? A hipoteca da casa? Pensando bem, nada iria acontecer.
Afinal, muita coisa aconteceu.
Cheguei e fui despejado numa cápsula que dava pelo nome de Resort Bahia Príncipe Tulum. Recebido com um show Mariachi e um cocktail com Canapés o luxo parecia estar à minha espera. Anilhado com uma pulseira dourada tive direito a um Tudo Incluído para VIP’s.
Com vida de rico, longe de Sócrates e com o mar do Caribe quase a banhar os pés da minha cama senti-me o homem mais feliz do mundo. O calor abria os poros e despertava as hormonas afogadas constantemente em tequilhas, morritos ou margaritas.
E se a barriga fosse de muito alimento não faltava comida vinte e quatro horas por dia. Parecia estar numa boda, daquelas em que o pai da noiva tem que contrair um empréstimo bancário para alimentar as centenas de convidados que além de trincharem o leitão e o bacalhau com natas, também comem a noiva com os olhos que a terra também há-de comer.
Ver Chichen Itza e Ekbalam, as pirâmides Maia, aquelas que sempre me habituei a ver nos compêndios de História, não foi muito excitante. Milhares de turistas e centenas de vendedores de artesanato quase abafavam as gigantes estruturas. Como dizia Jorge, o guia, aqui a artesania quase sempre é gato e raramente é lebre. Mas o que importa. Em primeiro lugar a nossa mãe ou a nossa tia irão gostar da pirâmide ou da boneca, que ficará muito bem na cozinha junto ao galo de Barcelos ,ou na sala junto a Nossa Senhora de Fátima. E segundo, o dólar ou o euro é negociável.
Bom, mas mesmo bom, eram os banhos na piscina do resort às três da manhã e quase sempre a chover torrencialmente. Estranho porque sempre me disseram que quando chove devemos mantermo-nos resguardados sob pena de contrairmos uma gripe daquelas de caixão à cova. Mas na Riviera Maya a chuva convida a um belo banho seja a que horas forem. E o bar está sempre aberto para uma bela Margarita…
Sei que fiz um pouco figura de parolo. Daqueles portugas, que trabalham um ano inteiro para depois esturrarem milhares de euros em pacotes de uma semana onde ficam de papo para o ar a enfardarem tudo o que lhes aparece pela frente. Depois o vizinho pergunta Então como é o México? É lindo, tem piscinas maravilhosas e come-se muito bem, E as gajas? Ui era com cada americana.
Sou sincero. Fiz figura de parolo. Só houve um dia em que furei o bloqueio da cápsula e parti à descoberta do outro México. Aquele México que só conhece os resortes porque lá trabalha. Aldeias no meio dos mangais com povo carinhoso. Aldeias de pessoas como eu. Pensei, ficaria aqui um mês, um ano.
Quando o avião se fez à pista para atravessar de volta o Atlântico, lembrei-me novamente do testamento. Decidi escrever nas costas do programa da viagem com a esperança que se acontece-se alguma tragédia, este meu testamento fosse encontrado; Que o pouco dinheiro que tenho no banco seja usado para os meus dois filhos conhecerem todas as aldeias do mundo. Beijos. Adriano Miranda.
Regressei sem gripe só um pouco mais bronzeado.
http://static.publico.clix.pt/docs/mundo/agripeinventada/

Se voltarem a pôr-te as malas à porta muda-te para Alcoutim.
Belo texto Adriano, só faltou mesmo a parte das tequillas em barda!! Na realidade andámos por ali armados em parolitos… Eheheh!!