Tinha oito anos quando vi a minha mãe agarrada ao rádio. O meu pai nunca teve tanta pressa para ver o Telejornal. O meu avô abraçava toda a gente e chorava.
A escola fechou. Quando abriu já podíamos brincar com as meninas no recreio. Cantávamos a Gaivota.
Nunca vi tanta gente junta. Gritavam liberdade. Riam. Estavam felizes. Em cada bolso existia um cravo. Também gritei o povo unido já mais será vencido.
Em casa do meu avô a família não parava de chegar. Abraços. Lágrimas. Champanhe. Eu brincava como sempre entre as pereiras e o pessegueiro. Lembro-me de saber que já não ia para a guerra como o meu tio Adriano.
No sábado regressei à casa onde vi o 25 nascer. A família chegou. Uns já não nos puderam abraçar mas outros novos abraços tivemos. Para que Abril não se esqueça.
