43

No dia 5 de Abril fiz 43 anos. Se o meu pai João ainda cá estivesse fazia 76 anos no mesmo dia. Lembro-me como era engraçado dar-mos os parabéns um ao outro. No dia seguinte cantávamos a canção mais conhecida do mundo à minha mãe Emília. Fez 69 anos no dia 6 de Abril.

Sou feliz mas podia ser mais. Acho mesmo que nunca atingimos o pleno da felicidade. Claro que sinto falta de cantar os parabéns ao meu pai. Quando o telefone interrompeu uma aula minha, e do outro lado uma voz trémula disse, O teu pai morreu, fiquei estático e só pensei porque não lhe dei mais beijos na despedida da manhã. Sei que a partir daquele momento fiquei mais duro. Não é fácil arrancarem-me um beijo ou uma festa. Talvez os esteja a guardar para um dia, aquele dia que ninguém sabe como é, depois de nos fecharem os olhos.

Não tenho religião. Não tenho Deus. Mas após a morte do meu pai senti o meu espírito sossegar e é sempre a ele que socorro nas horas de mais aperto. O meu pai é o meu altar.

Não me sinto velho nem cansado. Perdi a nostalgia do passado. Tenho agora um novo João e um fantástico Filipe. Veio ajudar. Eles não conheceram o avô João mas sabem falar dele. As nossas raízes devem ser alimentadas sob pena de secarem as referências de um passado que nos forma.

Não me sinto triste. Mas no dia 5 de Abril, sentei-me na borda da cama e olhei para o telemóvel. Em tempos que só existia a agenda com as letras de A a Z e o telefone fixo da PT, recebia mais votos de parabéns que recebo agora, neste mundo revolucionário dos MMS, dos SMS e dos e-mail’s…

Amachuquei a almofada e senti a falta do meu pai.

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