O encontro estava marcado junto à praia. Foi lá que pela primeira vez apertei a mão ao colega Alfredo Mendes. Caminhámos junto ao mar e fiquei a saber como neste país se descarta um trabalhador.
Alfredo tinha a mágoa na voz e a revolta no olhar. Num minuto foi despedido. Fora do gabinete do director adjunto, como os condenados que se encostam à parede de olhos vendados, os trabalhadores iam sendo chamados um a um. Verdadeira lotaria. Uns ouviram o seu nome outros não.
Muitos foram despedidos. Porquê Alfredo? Não sei!
Alfredo Mendes era jornalista do Diário de Notícias há 32 anos. Com ele a Controlinveste despediu mais 121 trabalhadores de uma forma injusta, imoral e desumana.
Caminhando ao sabor do vai e vem das ondas, o injustiçado olha para a minha objectiva e sinto que em cada fotograma que faço construo um pedaço de um espelho. Alfredo, a que horas chegará o meu minuto?
