Hoje em minha casa a rotina foi alterada. A minha mulher e o meu filho ficaram em casa. Ela fez greve e a escola do meu filho nem abriu. Cem por cento de adesão.
A minha mulher está orgulhosa. Aprendeu que a Democracia não é só votar de quatro em quatro anos. A Democracia é participar, é debater, é lutar e é também ter o direito à greve. Está orgulhosa porque os Professores estão a dar ao país uma lição de maturidade, de Democracia, de união.
Está orgulhosa e enquanto os patéticos secretários de estado da educação vêm para a rádio e televisão tentar tapar o sol com a peneira, desvirtuando os números da adesão à greve, a minha mulher está em casa a trabalhar, preparando a aula de amanhã e o meu filho está a estudar Estudo do Meio cantarolando pelo meio, está na hora, está na hora da ministra ir embora.
Na 5 de Outubro, Maria de Lurdes só lhe resta começar a empacotar os seus pertences e não se esquecer de levar a fotografia…

A minha mãe também é professora. Ao longo da minha vida, sempre a ouvi contar as histórias da escola e dos alunos, com o maior orgulho de sempre. Sempre a soube a corrigir trabalhos, mas feliz.
Com a “Milu” como eles a chamam, essa felicidade, esse orgulho pareceu fugir… mas quando a greve é convocada – e a democracia fala mais alto (ou o desejo de..) – a esperança e a força invadem a minha mãe e os colegas da escola dela.
Adeus, “Milu”, já não aguentam os professores, os alunos e as respectivas famílias… fazendo bem as contas, são uns milhões, não?