A camioneta

Uma tarde um rapaz entrou numa camioneta e seguiu viagem sem paragem, sempre a olhar pela janela grande que mais parecia um écran de cinema dos antigos, aqueles que voaram com o Tarzan, riram com o Cantiflas e sonharam com a Taylor fazendo as cadeiras rangerem de medo ou prazer onde as silhuetas por vezes davam cambalhotas e as línguas tropeçavam no rebuçado de mentol, que hoje caiu em desgraça com a concorrência desleal da pipoca, que não dá tempo de ver o minusculo écran tantas são as cambalhotas para ver o balde, esse maldito balde, castrador de línguas…mas o nosso rapaz continua a viagem, mordendo a língua ao ritmo do pensamento e fitando o vidro do écran por cada rapariga que passa na pedra do passeio, sem saber qual delas entrará na camioneta que segue viagem sem paragem, pois o lugar do lado continua vago à espera do momento de trocar a pipoca pelo rebuçado de mentol…

 

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